IA e publicidade: a transição mais profunda desde o surgimento dos mecanismos de busca
- lucaszoboli@gmail.com
- 0 Comments
A publicidade está mais uma vez diante de uma revolução, ou melhor, estamos vivendo uma revolução. Depois de sermos impactados pela chegada da televisão, pela era dos buscadores como o Google e pela explosão das redes sociais, agora entramos em um novo ciclo: a ascensão da inteligência artificial generativa. Ferramentas como o ChatGPT, o Copilot da Microsoft e o Gemini do Google não apenas respondem perguntas. Elas influenciam decisões, indicam produtos, sugerem serviços e até ajudam na hora da compra. Estamos presenciando o nascimento de uma nova interface entre pessoas e marcas. E tudo isso acontece de forma fluida, quase invisível. Naturalmente, uma nova forma de fazer publicidade começa a emergir.
Por décadas, a inteligência artificial foi um conceito restrito a laboratórios e filmes de ficção científica. Mas nos últimos anos, ela deixou de ser uma promessa distante para se tornar uma tecnologia presente no nosso dia a dia. Hoje, ela recomenda séries, corrige textos, personaliza experiências e até gera conteúdos completos. Em 2022, o lançamento do ChatGPT marcou um divisor de águas. Pela primeira vez, milhões de pessoas conversaram com uma IA de forma natural e produtiva. Desde então, vimos uma corrida global para incorporar inteligência artificial em navegadores, ferramentas de produtividade, mecanismos de busca e plataformas de atendimento.
Mas com isso vem a pergunta: como as IAs generativas vão impactar diretamente a publicidade?
O avanço das IAs generativas está deslocando o centro da publicidade digital. Em vez de anúncios que interrompem, estamos entrando em uma era de interações assistidas, onde marcas surgem como parte da conversa. A dinâmica muda completamente: não é mais sobre disputar cliques em uma página de resultados e sim sobre ser a resposta recomendada por uma inteligência artificial. Quando alguém conversa com uma IA para tirar dúvidas, buscar soluções ou planejar uma compra, a experiência deixa de ser sobre exposição e passa a ser sobre contexto, relevância e confiança. A marca que estiver bem posicionada nesse novo ecossistema, não por pagar mais, mas por ser mais útil e confiável, conquista espaço de forma muito mais poderosa. E é exatamente aí que mora a próxima grande disputa no marketing.
Se o SEO marcou o início da era da otimização para mecanismos de busca, estamos agora diante do nascimento de uma nova disciplina: a AI Optimization, ou simplesmente AIO. Essa evolução representa a adaptação do marketing para um ambiente onde as respostas são geradas por inteligências artificiais, não apenas indexadas por algoritmos. O Google, mais uma vez, lidera essa transformação. Em 2023, foram feitas mais de 5 trilhões de buscas na plataforma. A cada segundo, mais de 158 mil perguntas são feitas. E o mais impressionante: 15% dessas perguntas nunca haviam sido feitas antes. Isso mostra não apenas a relevância contínua do Google, mas também a evolução na forma como as pessoas pesquisam.
Com a integração de ferramentas como o Google Lens, o Circule para Pesquisar e as Visões Gerais Criadas por IA, a experiência de busca se tornou mais visual, contextual e inteligente. A Geração Z, nativa digital e cada vez mais exigente, lidera esse movimento, fazendo do Google não só um buscador, mas um verdadeiro assistente de descobertas. E com o avanço do Gemini, que deve alcançar 500 milhões de usuários até o fim de 2025, o desafio do marketing deixa de ser apenas aparecer na busca, e passa a ser citado pela IA como a melhor resposta possível. Essa é a base do AIO. E essa é a nova arena da publicidade.
O avanço das inteligências artificiais generativas está redefinindo o papel da publicidade paga. Em vez de anúncios que interrompem o fluxo de navegação, o novo modelo se baseia em recomendações contextuais durante conversas com assistentes como Gemini, Copilot e ChatGPT. As principais plataformas de tecnologia estão correndo para adaptar seus ecossistemas. O Google, por exemplo, já começou a integrar o Gemini às campanhas Performance Max, permitindo a geração automática de criativos e a otimização em tempo real. Segundo a própria empresa, campanhas com qualidade de anúncio classificada como “Excelente” podem gerar, em média, 6% mais conversões.
A Microsoft segue a mesma linha com o Copilot e a integração com o Bing Ads, transformando o buscador em um canal mais conversacional e inteligente. Já a Meta investe em IA generativa para personalizar anúncios no Instagram e no Facebook com base em preferências contextuais e emoções detectadas. E a OpenAI, por trás do ChatGPT, estuda novos formatos de resposta patrocinada dentro da experiência de chat, com base em intenção de compra e perguntas de alta conversão.
Com essa nova abordagem, surgem também novas métricas. A eficácia deixa de ser medida apenas por impressões e cliques, e passa a considerar engajamento dentro das respostas, qualidade da sugestão e recorrência de citação da marca. As empresas que entenderem como participar dessa jornada de forma útil e integrada, independentemente da plataforma, sairão na frente na próxima grande revolução da publicidade digital.
Em um cenário cada vez mais dominado por assistentes de inteligência artificial, a próxima fronteira da publicidade será a integração direta com esses sistemas. Empresas já estão criando conectores, APIs e plugins que permitem que suas soluções sejam acessadas e utilizadas diretamente dentro de experiências com IA. Isso muda radicalmente a lógica da publicidade. A marca deixa de ser apenas informada e passa a ser acionada, integrada e funcional em tempo real.
Um bom exemplo são os plugins criados para o ChatGPT, que permitem que o usuário faça reservas em restaurantes, consulte estoques, compare preços ou contrate serviços sem sair do ambiente da conversa. O próprio Google, com o Gemini, já estuda possibilidades de integração com serviços como Google Shopping, Google Flights e reservas de hotéis. A Microsoft, com o Copilot, conecta ferramentas como Outlook, Teams e Bing de maneira fluida. A Amazon também investe em IA conversacional para facilitar a compra por voz e por assistente visual.
Essa conexão direta entre marcas e assistentes representa uma oportunidade inédita para transformar publicidade em utilidade real. Não se trata mais de convencer o consumidor, mas de estar presente na jornada como solução pronta para ser ativada. As marcas que entenderem como se integrar tecnicamente a esses ecossistemas estarão construindo uma vantagem competitiva difícil de ser superada nos próximos anos.
A ascensão da inteligência artificial na publicidade abre um leque de oportunidades, mas também impõe desafios éticos e estratégicos significativos. Um dos principais é o viés algorítmico. Algoritmos treinados com dados históricos podem perpetuar preconceitos existentes, resultando em discriminação ou marginalização de determinados grupos de consumidores. Por exemplo, sistemas de recomendação podem direcionar ano podem direcionar an\u00funcios de forma desigual, reforçando estereótipos sociais.
A privacidade dos dados é outra preocupação central. Muitos modelos de IA dependem de vastas quantidades de informações pessoais para operar eficazmente, o que pode comprometer a privacidade individual e levantar questões sobre consentimento e uso adequado dos dados.
Além disso, a transparência e explicabilidade dos algoritmos são fundamentais. Consumidores e reguladores precisam compreender como as decisões automatizadas são tomadas para garantir confiança e responsabilização. A falta de clareza nos processos algorítmicos pode levar a desconfiança e resistência por parte do público.
Para enfrentar esses desafios, é essencial adotar estratégias como o desenvolvimento de IA ética desde o início, implementação de regulamentações claras, promoção da transparência algorítmica e educação contínua sobre ética em IA. A colaboração entre todas as partes interessadas é crucial para assegurar que a publicidade impulsionada por IA seja não apenas eficaz, mas também responsável e justa.
Enquanto muitas empresas ainda tentam entender o que muda com a inteligência artificial, as mais visionárias já estão se adaptando ao novo cenário com estratégias de AI Optimization. Assim como o SEO transformou a forma como produzimos conteúdo para buscadores, o AIO está nascendo como o conjunto de práticas para fazer com que marcas, produtos e serviços apareçam nas respostas geradas por IAs conversacionais.
Mas como aplicar AIO na prática? O primeiro passo é garantir que sua marca tenha conteúdo estruturado, confiável e acessível, tanto no site quanto em canais de autoridade. As IAs são treinadas para valorizar fontes claras, atualizadas, com linguagem objetiva e respostas diretas. Implementar marcações com dados estruturados, principalmente do tipo LocalBusiness, FAQ, Product e Review, é essencial. Ter um site rápido, com boa reputação e presença forte em fontes externas também influencia. A IA tende a recomendar o que é confiável e amplamente citado.
Outro ponto-chave do AIO é estar presente onde a IA busca informações. Isso inclui manter perfis ativos e atualizados no Google, LinkedIn, Apple Maps, TripAdvisor, YouTube e até fóruns como Reddit e Quora. Marcas que dominam nichos com conteúdo últil tendem a ser priorizadas pelas IAs ao responder perguntas de usuários.
Mais do que tráfego, o AIO busca relevância algorítmica conversacional. Isso significa treinar sua presença digital para responder perguntas reais de consumidores, com foco em qualidade da resposta e não apenas volume de palavras-chave. Em um futuro onde consumidores pedirão recomendações diretamente para uma IA, ser a resposta é mais importante do que estar na busca.
Estamos vivendo uma virada de chave na publicidade. A inteligência artificial já não é mais uma promessa distante, ela é o novo ambiente onde marcas e consumidores se encontram. E, nesse novo cenário, não basta mais saber impulsionar um post, configurar uma campanha ou escrever um bom texto. O profissional de marketing do futuro será aquele capaz de conectar estratégia, dados, conteúdo e tecnologia em um ecossistema cada vez mais dinâmico e automatizado.
A inteligência artificial vai tirar do mercado quem depende apenas de atalhos ou fórmulas prontas. Em contrapartida, vai abrir espaço para quem entende o contexto, a jornada e, sobretudo, a intenção real do consumidor. Serão valorizados os profissionais que sabem estruturar uma presença digital inteligente, que dominam o AIO e que estão dispostos a aprender constantemente.
Se o SEO moldou os profissionais da era dos buscadores, o AIO vai moldar os líderes da era das inteligências. E nesse cenário em que os algoritmos escolhem o que mostrar, só há uma forma de vencer: ser relevante de verdade.